A matéria a seguir foi publicada pelo site da Adufms, confira a original aqui.
A Adufms Três Lagoas sediou, neste sábado (19 de novembro), o 1º Mutirão de Prescrição de Cannabis Medicinal. O encontro, que ocorreu logo após a Marcha da Maconha, foi realizado na sede do sindicato na cidade e foi uma ação de extensão universitária do projeto “Diálogos Canábicos: Saúde, Qualidade de Vida e Direito ao Uso Terapêutico”, coordenado pelo professor Dr. Alejandro Lasso Gutiérrez, da Faed (Faculdade de Educação) – Campus Cidade Universitária.
A ação foi organizada e coordenada pela professora Dra. Kaelly Virginia Saraiva, do curso de Medicina do CPTL (Campus Três Lagoas), que também é diretora da Adufms em Três Lagoas. O Projeto tem o apoio da Associação Divina Flor – sediada Campo Grande e autorizada a fornecer o óleo de maconha medicinal – e, para o mutirão, foi realizada uma parceria em Três Lagoas com a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e AMA Três Lagoas (Associação de Pais e Amigos dos Autistas de Três Lagoas).
O evento contou com a participação de médicos prescritores e acadêmicos de Medicina do CPTL-UFMS. O mutirão teve como público-alvo as crianças e adolescentes autistas, além de adultos com doenças neurológicas e psiquiátricas, como esclerose múltipla, epilepsia e transtornos mentais. Um dos objetivos é facilitar o acesso ao Canabidiol, que atualmente é o único produto à base de maconha permitido pela Anvisa (Associação Nacional de Vigilância Sanitária), cuja eficácia em tratamentos é comprovada, mas que ainda é de difícil acesso.
Kaelly chama atenção para o fato de haver, em diversos países do mundo, uma facilidade muito maior no acesso a remédios à base de Cannabis. “Em muitos países do mundo já há leis e regulamentações que reconhecem a importância terapêutica e o potencial comercial da planta, tendo passado pela aceitação e descriminalização, até a venda regulamentada de seus produtos”, aponta a professora. “Mas o Brasil permanece na contramão da modernidade, com a resistência em aceitar o que a ciência já comprova”, prossegue.
A docente também ressalta que o uso desses medicamentos no Brasil resultaram de um longo processo de lutas por parte da sociedade civil. “As poucas conquistas que tivemos até hoje no uso da Cannabis/maconha, tem sido graças à perseverança e luta de pessoas, de associações e coletivos, e até de parte do Judiciário que tem atendido à demanda de pais de crianças doentes e de tantos familiares e pacientes, que só têm a maconha medicinal para lhes dar esperança de qualidade de vida e saúde”.
Ela acredita que o sindicato possui um papel importante na mobilização por políticas públicas que visem ampliar e democratizar o acesso a remédios como o Canabidiol. “A universidade, e nosso Sindicato como uma entidade de vanguarda que defende os direitos humanos, também devem se envolver nesta causa tão necessária, colaborando com ações como esta, ocorrida no dia 19, e assim dando um importante passo para o fim do preconceito e para o avanço na ciência e na saúde”, finaliza a professora.
Korre, acadêmica de Direito na UFMS de Três Lagoas, destaca a dificuldade do acesso ao remédio. “A maconha é tida hoje como a promessa da medicina do século XXI. Quanto mais o tempo passa, mais ações são judicializadas para permitir o acesso, mas esse acesso ainda não é popular. As camadas periféricas, que já têm vários direitos negados, continuam longe desse acesso”, afirma.
“Ter esse ato em Três Lagoas é realmente um passo fundamental e, daqui em diante, é continuar na luta junto com os professores da cidade e do Brasil, com pesquisadores, mães de crianças com autismo, familiares de pessoas em condição de saúde delicada e que precisem desse acesso”, conclui a estudante, que também participou dos atos.